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16 de fev. de 2012

feiticeira de Évora


 
A FEITICEIRA DE ÉVORA
  




A feiticeira ou bruxa de Évora é uma das personagens
mais populares e misteriosas do folclore e das lendas
da magia, especialmente na esfera da cultura popular. 
Sua biografia é dispersa, incerta, cheia de contradições. 
Até onde conduzem as pesquisas, não pode ser considerada
figura histórica; no entanto, sua fama é suficiente para
considerá-la arquétipo mítico de um certo tipo de bruxa, de feiticeira.
Sobre uma Bruxa de Évora, como pessoa localizada
em um tempo, sua identidade primeira e verdadeira,
sobre isso não há, nenhum registro que possa ser
considerado como Histórico, documental, de fonte
confiável. Documentos referentes à Bruxa 
simplesmente inexistem. 
É difícil até mesmo determinar a época em
que viveu. A maioria dos textos/livros sobre
uma Bruxa de Évora afirma que ela viveu 
no século... Outros, dizem que viveu em meados
da Idade Média. Todavia,  um único de texto de 
referência permite supor que, na verdade, essa
Bruxa é mais antiga, e que poderia perfeitamente
ter vivido em pleno século III d.C..
Mítica, é possível que a primeira bruxa de Évora 
tenha sido tão poderosa e influente que
seu nome tornou-se sinônimo para praticantes da 
bruxaria que vieram muito depois e também
fizeram fama desde o antigo oriente Médio, 
Ásia Menor. Uma idéia de bruxa que alcançou 
não somente a Península Ibérica mas também 
toda a região costeira do Mar Mediterrâneo, os Bálcãs, 
as ilhas do mar Mediterrâneo: ao longo de séculos, a
expressão "Bruxa de Évora", tornou-se algo como um título.
A BRUXA & O SANTO FEITICEIRO


As pesquisas sobre esta feiticeira indicam que
boa parte de sua fama nasce junto com a 
fama de um outro mago negro controverso: CIPRIANO 
DE ANTIOQUIA que viveu no século III da Era cristã 
(anos 200). Este, depois de uma vida dedicada à 
magia negra, converteu-se ao Cristianismo e foi até 
canonizado passando fazer parte da história Cristã 
como São Cipriano.

Segundo as lendas, pois as biografias desses 
personagens não têm registros históricos precisos, 
o nome "Bruxa de Évora" [ou Bruxa de Yeborath – 
Iebora, em árabe يعبرهsignificando Cruzado, 
cruzamento, encruzilhada] aparece pela primeira
vez, nocontexto do estudo da História da Bruxaria, 
ligado ao nome do Santo feiticeiro. Ela teria sido 
uma das mestras do mago e ele, seu discípulo
mais prestigiado, herdeiro de seus feitiços.




BABILÔNIA:
FEITICEIRAS DE ENCRUZILHADAS
NOS PRIMÓRDIOS  DA BRUXARIA


A migração da mítica da Bruxa de Évora:
da Babilônia até a Península Ibérica



Porém, esse encontro NÃO ACONTECEU
 na península Ibérica, como sugere 
o termo designativo, distintivo da Bruxa, 
Évora que é uma cidade histórica de Portugal.

Segundo a biografia do feiticeiro Cipriano, 
seu encontro com a Bruxa aconteceu na
Mesopotâmia, na Babilônia, [atual Iraque]
onde se reuniam os ocultistas que  estudavam
a magia dos antigos Caldeus [sobretudo Astrologia].

Os dois personagens, já legendários: 
Cipriano, o Feiticeiro e supostamente, um
de seus Mestres, sendo uma certa Bruxa
de Évora, parecem ser um caso de migração
de mitos e sincretismo cultural.

Ambos, Cipriano e a Bruxa, originalmente, parecem 
pertencer ao acervo das crenças e figuras mitológicas
que chegaram à península Ibérica em diferentes 
períodos históricos mas que combinaram-se perfeitamente 
no universo da mítica do sobrenatural: primeiro, chega a
lenda Cipriano, já difundida no Martirológio cristão: o 
caso do Feiticeiro e sua misteriosa mestra de Yeborath. O 
Bruxo que virou Santo.

Mais tarde, o juntamente com os Mouros sarracenos que 
invadiram e dominaram o território a partir de 715 d.C., 
vieram as bruxas misteriosas do Oriente, quase
ciganas,  as bruxas das Yeborath ou Iebora, das encruzilhadas,
das agulhas.

E, se sobre a Bruxa não há registro históricos de 
espécie alguma, a não ser como arquétipo, 
sobre Cipriano, o Santo Feiticeiro, existem, ao 
menos, um parcos documentos, como sua 
Confissão depois da conversão ao Cristianismo.

Como foi dito, Cipriano – o Feiticeiro não somente 
encontrou uma certa Bruxa de Evora em sua passagem 
pela Babilônia como dela teria herdado os , as poções, 
os segredos do poderes de sua Mestra.

Considerando essa informação como fato possível
uma Bruxa ou feiticeira na/ou daBabilônia seria, naturalmente,
versada naquele tipo magia característica da cultura
Mesopotâmica, aquela normalmente classificada como 
magia das trevas, da mão esquerda, magia negra: Goecia,
necromancia, vidência, evocações, 
parcerias com demônios, envultamentos [encantamento à 
distância: os bonecos de cera e as agulhas], oráculos.

Essas bruxas e bruxos foram aqueles que 
preservaram alguma coisa das tradições 
da magia das tribos nômades e reino antigos 
de tempos ainda mais arcaicos entre os quais 
destacam-se os Caldeus e os Assírios. Era uma 
Magia de sombras, freqüentemente desprovida 
de escrúpulos, sem critérios éticos, que livremente
associava-se com entidades não humanas e pouco
confiáveis: demônios, gênios, formas-pensamento, 
elementais, espíritos de pessoas mortas.

Uma bruxa assim poderia, mesmo ter existido.
E não somente uma, mas várias. Asbruxas 
de-ou-das Evoras seriam algo como uma 
categoria de feiticeiras. Voltando à etimologia 
da palavra Évora, embora sejam encontradas 
raízes em solo europeu,  não se pode desconsiderar
a Yeborath dos árabes que, como foi explicado 
tem como significado: Cruzado, cruzamento, encruzilhada.

Uma etimologia que sugere a  do
termo Bruxa de Évora para Bruxa de Encruzilhada ou, 
bruxa que faz seus trabalhos em encruzilhadas, lugar
de Pactos. [Lembrando uma característica que lembra 
a divindade grega Hécate, senhora dos encantamentos e
do mundo dos mortos.]

Com uma pequena mudança gráfica e fonética, se Yeborath 
é dito Iebora, então o significado muda para Agulha, agulhas
e assim resulta, Bruxa das Agulhas. Ou seja, uma bruxa que
trabalha com agulhas [supõe este pesquisador, agulhas e
bonequinho de cera. Meditemos]...



MAGIAS DE ÉVORA ANTES DE TUDO




Rastrear a trajetória geográfica da  da "Bruxa de Évora"
ao longo dos séculos passa, necessariamente pelo 
conhecimento do histórico da localidade de Évora até
porque, se o folclore em torno desta personagem
começa na Babilônia do século III d.C., a crença se
perpetua além Oriente-médio, alcança com toda 
força mítica a vasta região da península Ibérica e,
atravessando o Atlântico junto com os grandes
navegadores portugueses e espanhóis, encontrou
seu lugar no imaginário dos povos
 latinos-nativos-afro-americanos.

Se, de fato, existiu uma bruxa de Évora
 cuja vida se cruza com a vida de São 
Cipriano, esta personagem viveu [ou teria vivido]
no século III, os anos 200 depois de Cristo.
Nesta época, Évora era uma cidade romana, 
Libetalitas Julia, conquistada em 57 d.C..

Contudo, a palavra Évora, ao que tudo indica é

a denominação popular da localidade, antes e
depois do domínio romano e, ainda, são várias
as explicações para a origem deste nome. Plínio, 
o Velho (23–79 d.C.) – filósofo e naturalista, cronista 
romano, em seu  Naturalis Historia, chama o lugar
de Ebora Cerealis, por causa dos campos de trigo que
dominavam a .


OS CELTÍBEROS

Os povoamentos na região, cujo centro,
hoje, é a cidade Évora, abriga sítios arqueológicos
que datam da Idade do Bronze [1.800 a.C.] e
outros ainda mais antigos, do Paleolítico, Neolítico, 
Calcolítico [Idade do Cobre, cerca de 3.000 a.C]; de 
muito antes da Era Cristã. Sobre o passado remoto
de Évora escreve J. Saramago:





Chamaram-lhe Ebora os celtiberos, 
e como Ebora Cerealis a tem nomeado Plínio, 
o Velho, na sua História Natural, o que servirá
para dar testemunho de que as planuras
transtaganas já davam pão pelo menos
dez séculos antes que os "alentejanos" 
(os que viveram e vivem além do Tejo...) 
se tornassem portugueses (SARAMAGO, 2001).

Mitologia-folclore cristão-pagão e sarraceno
[mouros] são apenas dois dos elementos que
se misturam na composição da lenda e das
imagens relacionadas à Bruxa de Évora
Uma influência ainda mais recuada repousa 
na história dos fascínios e medos dos povos
que habitaram a Península antes de romanos ou mouros.
São os bárbaros celtiberos, dos quais fala 
Saramago no texto acima e outras nações
várias que se miscigenaram com os
supostos autóctones [nativos do local] lusitanos
 oulusitani [em latim]  a maior das tribos ibéricas. 
Os lusitanos propriamente ditos são, geralmente, 
considerados como proto-celtas, celtas primitivos, 
migrantes, provenientes do norte europeu, 
mais especificamente os Célticos.
MAGIA DOS CELTÍBEROS

Uma xamã, ou feiticeira ibérica, [ou um xamã,
o gênero é incerto] figura central no culto da
Fertilidade, no Ocidente. É uma sacerdotisa. 
No peitoral, sete símbolos do sol. British Museum.
Estes primeiros habitantes organizados em 
aldeias e tribos da região, os celtiberos praticavam
a magia européia ocidental mais primitiva, 
ainda eivada de crenças e práticas pré-históricas, 
como os sacrifícios humanos, por exemplo.

Nesse contexto, o papel das mulheres tinha 
grande relevância posto que exerciam o
papel de Xamãscurandeiras que se utilizavam
do conhecimento das virtudes e das peçonhas 
fornecidos pela Natureza, poções para o bem 
e para o mal extraídas de vegetais, animais e 
minerais. No alvorecer da História, as 
bruxas eram como médicas: do corpo, da
alma; intermediárias entre os homens e as 
forças da Natureza.

Foi essa magia primitiva que, aos poucos, 
transformou-se na Bruxaria da península Ibérica, 
resultado da interação com saberes de outras
nações: romanos pagãos, romanos cristãos,
bárbaros outros, pagãos originais ou romanizados; 
bárbaros cristianizados, Mouros (muçulmanos, Sarracenos).

Sobre a relação entre Évora e os celtíberos, estudos
indicam que, a palavra e o lugar podem estar ligados
a uma antiga divindade celta cultuada na região: 
Eburianus cujo símbolo é a árvore do Teixo. 
Houve tempo em que os lusitanos chamavam 
a atual localidade de Évora de Eburobrittium (SÍMON, 2005).




ERA UMA VEZ... LAGARRONA-LAGARDONA

Segundo o livro de São Cipriano [o feiticeiro,

século III d.C. anos 200], capa de Aço, no
tempo em que os mouros viviam na 
região portuguesa de Évora, o rei mouro
Praxadopel ali construiu um castelo, em Montemur.

Nesse lugar, hoje chamado Castelo de Giraldo
 [referência a Geraldo, o Sem Pavor – ... -1173? 
herói da reconquista da terra lusa ocupada pelos
mouros], transformado em ruínas pelo passar 
dos séculos, em meio às pedras, louvado nas 
noites escuras pelo uivo de lobos e chacais,
no fundo da propriedade, ocultos embaixo de
montes de pedras, no Túmulo de Montemur, foram
encontrados os restos mortais de sete
pessoas e pergaminhos escritos por Lagarrona,
a Feiticeira de Évora (também chamada Lagardona
ou La Guardona).
 
* Os mouros, povos do oriente médio,
somente poderiam ter ocupado a região 
depois período de expansão dos domínios
árabes em suas incursões em território 
europeu, em uma época, portanto, pós-fundação
do Islamismo. Porém as referências à uma bruxa 
de Évora remontam aos primeiros séculos do 
Cristianismo, por volta do século III, coincidindo
com o período de vida de do bruxo Cipriano. 
Eis uma prova da dificuldade de identificar a 
historicidade dessa feiticeira tão famosa.



FOLCLORE DA FEITICEIRA EM PORTUGAL

Ruínas das muralhas: Castelo do Giraldo, cidade Évora – Portugal. O Castelo de Giraldo, mais que uma referência a uma edificação, refere-se a toda uma região que, hoje, é um sítio arqueológico de Portugal.


No tempo em que os mouros viviam na região
portuguesa de Évora [e os mouros chamavam
a cidade de Yeborath a Liberalitas Julia da 
época da dominação romana], o rei mouro 
Praxadopel ali construiu um castelo em Montemur
  [região vizinha de Évora cujo centro é a cidade de Montemor].

Nesse castelo, hoje chamado Castelo de Giraldo, 
transformado em ruínas pelo passar dos séculos, em 
meio às pedras, louvado nas noites escuras pelo uivo 
de lobos e chacais, que, no fundo da propriedade, 
enterrada entre montes de pedras, está o Túmulo 
de Montemur. Nele foram encontrados os restos 
mortais de sete pessoas e pergaminhos [supostamente] 
escritos por LAGARRONA, a feiticeira de Évora.

Frei Antão de Sis, estudioso dos fenômenos 
mágicos e da feitiçaria, através dos pergaminhos,
encontrou a casa da bruxa, ainda em pé, apesar
do tempo. Descreveu-a como uma casa diabólica... 
No meio dela havia uma cova da altura de um
homem. As paredes internas estavam repletas 
de desenhos representando lagartos, cobras, lagartixas 
caracóis, rãs, escaravelhos, símbolos egípcios, vespas,
baratas e outros bichos peçonhentos.

Do lado de fora, havia quatro sapos e várias figuras de
meninos tendo nas mãos molhos de varinhas de 
ervas com os quais ameaçavam os sapos. 
Ainda dentro da casa, em dos cantos dessa casa mal-assombrada
havia a escultura de pedra de um cavalo-homem, 
como um centauro. Noutro lugar, outra estátua, esta,
a de uma mulher-serpente. Em certo ponto do chão
ladrilhado com cerâmica negra, uma inscrição:


O primeiro a abrir esta cova
Verá coisas jamais vistas
Cava por diante para que resistas [enfrentes]
ao grande temor que seu peito prova
Verás sortilégios mágicos que prendem os homens,
o filtro do amor que amarra as mulheres.
Não temas, não temas. Não mostres temor:
acharás sucessos, magia e amor
e, por certo, em tudo será vencedor.
Gran libro de San Cipriano o los tesoros del hechicero, 1985




A BRUXA DE ÉVORA NOS LIVROS

Em Portugal A Bruxa de Évora é o modelo de
bruxa. Mas não somente em Portugal: este 
modelo de bruxa está na fantasia de toda a
Península Ibérica e nos territórios que foram
descobertos e conquistados pelos grandes 
navegadores ibéricos da Idade Moderna.

É praticamente inexistente o material documental 
sobre a pessoa específica de uma Bruxa 
relacionada, residente ou oriunda da região de
Évora. Livros, biografias sobre essa personagem 
são poucos e contém informações de fonte 
duvidosa e/ou desconhecida. Edições de obras
bem conhecidas não mencionam datas ou originais. 
Dois livros destacam-se nessa bibliografia exígua:  
O Livro da Bruxa ou Feiticeira de Évora de Amadeo
de Santander e A Bruxa de Évora, de Maria Helena Farelli.

No primeiro, no que se refere à biografia da Bruxa, 
o que se encontra, logo no primeiro capítulo é uma
reprodução e/ou tradução de outro texto de autor 
praticamente desconhecido: capítulo do Livro de São
Cipriano, sabe-se lá em qual de suas repetitivas versões 
mas, muito possivelmente da edição em espanholGran 
Libro de San Cipriano o los tesoros del hechicero.

O capítulo, intitulado La Hechicera de Evora 
o Historia de La Siempre Novia (Siempre Novia, 
referência uma das lendas mais difundidas sobre a Bruxa)
teria sido, supostamente, extraído [todo o capítulo] de um 
manuscrito cujo autor é um certo [ou incerto] Amador Patrício.



FEITIÇO DA COBRA GRÁVIDA

Outro supostamente episódio biográfico sobre
a Bruxa relata o paradoxal encontro da
Feiticeira com o Bruxo Cipriano, já cristianizado
mas ainda especialista em bruxedos. O caso é conhecido
com O Encontro de São Cipriano com a Bruxa de Évora.
Neste encontro, Cipriano não parece um discípulo diante
de uma antiga mestra. Ao contrário, é a bruxa, já em avançada
idade que recorre ao novo cristão para realizar um feitiço que
lhe renderia [a ela, bruxa] bom dinheiro. Trata-se dofeitiço da 
cobra grávida, para segurar marido.

O ex-bruxo propõe uma barganha:
a conversão da bruxa ao Cristianismo
em troca da fórmula mágica. A bruxa 
aceita e eis a feiticeira de Évora transformada 
em penitente velhinha cristã. Ao final, a receita
profana, destinada a recuperar o marido da 
contratante, uma jovem senhora da nobreza, pede
o favor para a réptil gestante [a cobra grávida!] mas, 
isso em nome de Deus e da Virgem Maria! Uma combinação
extravagante de feitiço pagão e reza cristã.

Santander, autor deste livro, O Livro da Bruxa ou 
Feiticeira de Évora, este autor é tão difícil de identificar
e datar quanto a própria Bruxa de Évora. Ele começa
sua obra sem qualquer introdução, identificando o período
de vida da personagem que dá nome ao livro com 
o tempo da dominação Sarracena na península Ibérica, 
ou seja entre o século VIII e começo do século XII.

Escreve Santander: No tempo em que os mouros 
viviam na região portuguesa de Évora... E ao longo
do capítulo descreve o que seriam os últimos anos
de vida da Bruxa, claramente qualificada como 
Moura, muçulmana. No relato, a feiticeira 
tem um filho adulto e mau. Chamado Candabul,
desejou possuir uma jovem donzela cristã. A bruxa
ajuda no rapto da moça, providencia a morte por 
enfeitiçamento todos os pretendentes dela. Mas o mal-feitor é
preso e condenado à morte. Mais uma vez a bruxa interfere
e se empenha em produzir mágicos meios de fuga para Candabul. 




LA GUARDONA, O FANTASMA DA BRUXA

Caçada pelos agentes da Lei, depois de várias peripécias, 
ela acaba morrendo durante um acidente na realização de
um de seus feitiços, que fazia em uma tentativa desesperada 
de escapar da Justiça. Quando chegaram os soldados,
encontraram-na morta. Não foi sepultada. Como
punição post-mortem, foi pendurada na porta da
própria casa e ali ficou apodrecendo e sendo devorada 
pelos abutres e vermes. O cadáver, lentamente 
virando ossada, oscilando ao sabor das ventanias,
era uma visão macabra que parecia vigiar o lugar
e a bruxa morta passou a ser chamada 
de La Guardona [ou, as corruptelas, Lagarrona
 e Lagardona], algo como A Guardiã... da casa, de
suas ruínas e arredores. O local, naturalmente,
passou a ser temido e considerado como assombrado
[Gran Libro de San Cipriano o los tesoros del hechicero, 1985].

Todavia, mais adiante, quando fala do encontro
da feiticeira com o ex-mago negro, o autor 
ignora completamente os dados históricos que, se pouco
dizem também sobre a vida do bruxo Cipriano, ao
menos bem determinam a data de sua morte, 
martirizado por ser cristão em 304 d.C., 
muito antes, séculos antes, portanto, da
 Bruxa de Santander ter protagonizado aquelas
aventuras. No episódio do feitiço da cobra
grávida, o fim da bruxa é outro: cristianizada, 
bem aposentada com o ouro do último bruxedo
que fez por contrato e empregada como Aia [criada pessoal] 
de uma condessa.




LENDAS, FÓRMULAS & SEGREDOS

Torna-se claro que os relatos sobre a bruxa 
de Évora são de fato, um conjunto de lendas
e seus supostos escritos são de origem desconhecida,
excertos de Grimórios mais antigos de autoria igualmente 
duvidosa. Alguns são atribuídos a este ou aquele mestre
mais conhecido na esfera do folclore, da cultura popular,
como Alberto, o Grande, Papa Honório, bruxo Atanásio 
e o próprio Cipriano, o feiticeiro.

Muitas das receitas dos Grimórios são
fórmulas de remédios caseiros, acervo de 
um saber muito útil em uma época em que a
medicina dispunha de toscos recursos e médicos 
com estudo eram poucos e para ricos. Muitos dos 
Segredos da Bruxa revelados no livro de Amadeo
de Santander fazem parte da sabedoria popular dos 

curandeiros e curandeiras de linhagem imemorial, uma 
herança que durante muito tempo foi preservada e
transmitida através da cultura oral.

A própria Bruxa apresentada por A. 
de Santander em sua pretensa-original tradução-reprodução
do Único e autêntico manuscrito comprovado pelos sábios
da Galícia extraído do Flor Sanctorum, datado dos tempos
dos mouros de Évora, a feiticeira comenta revelando algo 
possivelmente verídico na vida de muitasBruxas de Évora
que seus conhecimentos foram-lhe ensinados pela mãe, 
segredos passados de geração em geração. Explicando a
Cipriano em que consiste o seu [dela] feitiço da Cobra 
Grávida Para Prender Marido ela revela algo de recorrente 
na biografia dessas bruxas de Encruzilhadas:

É pele de cobra com flor de suage [ou sage,
 Artemisia vulgaris ou, ainda, flor-de-são-joão, 
erva-de-são-joão, artemísia-verdadeira, losna, absinto.L.C.]
 e raiz de urze [Erica Lusitanica ou torga e/ou 
Calluna vulgarisque estou queimando em nome de Satanás, 
para defumar as roupas do duque [o Grão Duque de Terrara] 
e ver se o desligo daquela mulher [uma amante].
Esta mágica foi sempre infalível quando minha mãe a
praticava debaixo dessas abóbodas em que as 
mãos dos homens não tomaram parte. Minha mãe
desligou com ela [a tal magia] mancebais
[relações extraconjugais]
 de nobres e monarcas...
(SANTANDER,  p 13)


Compilados em manuscritos medievais, 
organizados em volumes raros, artesanais, 
ornados com finas iluminuras, a grande 
enciclopédia dos saberes populares, pagãos,
curiosamente, começou a ser organizada, não raro, 
pelo monges escribas das grandes escolas e
bibliotecas de mosteiros da Cristandade medieval. 
Provavelmente foi da pena dos monges que surgiram
os primeiros Grimórios e/ou Engrimanços. Com o advento
e evolução da imprensa, ou seja, depois de Johannes
Gutenberg [Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg,
1398-1468 – alemão, considerado inventor/introdutor da
imprensa no Ocidente], esses conhecimentos
documentados em registros escritos tornaram-se 
disponíveis em numerosas cópias que ganharam
o mundo em letras de forma, em publicações
variadas, de folhetos baratos, almanaques de
curiosidades até custosas e exclusivas edições.




O ENCANTAMENTO DA BRUXA


...a Bruxa de Évora foi vista voando em um bode preto...
voava... acompanhada por um veado e um javali alados..
.
(FARELLI, 2006 p 26)


Em A Bruxa de Évora, Maria Helena Farelli
(2006) apresenta a personagem como arquétipo
folclórico luso-hispano-brasileiro, com ênfase nas 
raízes portuguesas da lenda, já
devidamente hibridizadas entre: 1. o druidismo 
celtíbero doméstico; 2. o culto romano à deusa
Diana  [correspondente à grega Artemis], cujas ruínas
do templo ainda podem ser visitadas em Évora; 3
. a figura mítica da moura feiticeira, freqüentemente 
apresentada, simplesmente e depreciativamente como 
aMoura Torta, um modelo de bruxa, tudo isso
misturado ao – 4. ritualismo cristão das orações
e adoração dos santos e das relíquias e nome sagrados.

Em Farelli (2006), a narrativa passa, 
como é necessário, pela história da nação
lusitana, detendo-se em período em que a 
cultura popular mística-religiosa já tinha 
absorvido elementos que ficaram como 
herança do tempo da dominação islâmica-sarracena
em toda a península Ibérica. Boa parte dessa 
herança consiste no universo misterioso na magia semita, 
caldaica, mesopotâmica: dos magos-alquimistas, astrólogos,
videntes, quiromantes, necromantes – invocadores de
gênios e espíritos dos mortos, magia-negra, também, sim, 
da mais antiga tradição árabe, pré-Islã. Segundo Farelli a
Bruxa de Évora era a ...guardadora dos segredos dos
feitiços do Oriente, a que voava em camelos alados...
(FARELLI, 2006 – p 15).

Sobre o sincretismo no qual foi forjada a
Bruxa de Évora, a autora escreve: ...o português 
sempre acendeu uma vela para Deus e uma para 
o outro. Até na Igreja ele fazia mirongas... Até os
padres eram acusados desses feitos. Mas os 
considerados grandes bruxos eram os mouros
e os judeus... (Idem, p 29). E mais: ...segundo
a lenda, a Bruxa de Évora era moura... árabe ou 
mourisca... morena... (Ibid., p 29).   




BRUXA ERUDITA

Em relação à aparência, A Bruxa de Évora (FARELLI, 2006) 
apresenta o arquétipo folclórico da personagem em sua
velhice. Esta esta é uma daquelas bruxas velhas e
esquivas dos contos infantis. Mas, ao contrário do 
modelo da curandeira intuitiva, analfabeta, camponesa
ignorante cujo conhecimento é todo proveniente de
experiência pessoal e herança de tradições orais,
em Farelli (Idem) a bruxa de Évora é praticamente
uma erudita. Alfabetizada, poliglota, ela fala,  lê e escreve
em português [o gentílico da época], árabe e latim.

Sem citar sua fonte de informação, a autora 
enfatiza: Sabia matemática... reconhecia as estrelas,...
sabia ler a sorte nas areias... Ela conhecia a magia de
seus ancestrais muçulmanos* mas, vivendo no século 
XIII [anos 1200], também sabia [da magia] dos celtas...
 (FARELLI, 2006 – p 33). Todavia, a moura pagã era, 
ao mesmo tempo, devota cristã: ...a velha bruxa já tinha 
feito a peregrinação a Santiago de Compostela [tradição cristã]... 
Já tinha ido à Sé de Braga, muitas vezes, pagar promessas... (Idem)
...E, ainda: ...a bruxa de Évora não era uma herética.
Era uma mulher que conhecia as rezas (Ibid., p 41).


* Um equívoco comum do olhar superficial do
Ocidente sobre o Oriente. Há muito tem-se 
confundido cultura árabe com cultura de 
muçulmanos. A magia não poderia ser 
praticada por uma muçulmana. O Islã proibiu, 
sujeitando a severas penas, a prática da 
magia tradicional pré-islâmica. Na verdade, 
a famosa riqueza da cultura árabe precede o
Islã; uma riqueza que o Islamismo cuidou de
mutilar ao longo de mais de um milênio e declina, 
mais e mais, com a expansão e recrudescimento 
fundamentalista da fé no Alcorão e sua teocracia
–  repressiva, opressora e regressora, baseada em 
leis supostamente religiosas suplementares – as 
Sharias, diferentes para as diferentes seitas muçulmanas,
que ignoram até mesmo os preceitos estabelecidos
no confuso livro sagrado desses crentes.


Além disso, essa Bruxa de Évora era uma 
senhora em situação social e de comportamento
atípicos para sua época. Vivia bem [ou seja, não
passava dificuldades financeiras, materiais]. 
Tinha dinheiro proveniente da prestação de 
seus serviços mágicos e/ou técnicos-científicos. 
Porém, consciente do espírito dos tempos 
medievais, não ostentava riqueza ou poder.
Era discreta, sabiamente. Andava pobremente 
vestida, Era seu jeito de ficar invisível e evitar
confrontos com as autoridades religiosas.


O LIVRO DA BRUXA QUE NÃO É DA BRUXA


Flos Sanctorium ou Flos-Santorio:
Flor dosSantos


Como todo ocultista, seja leigo ou erudito,
considerando uma figura histórica da Bruxa 
como precursora ou símbolo de um mito, a
Bruxa de Évora, alfabetizada que era possuía 
ou devia possuir seu próprio Livro [ou livros] 
de estudos e anotações contendo fórmulas de 
elixires, ungüentos, poções, rezas, rituais e outros
saberes. Nos meios exotéricos, o livro de 
registros pessoais de uma bruxa é chamado
 Livro das Sombras.

Um possível Livro da Bruxa de Évora seria – 
ou foi e é, um objeto que, se autêntico, 
atraiu e atrai curiosidade e cobiça proporcional
à força lendária de sua suposta autora. Um objeto 
digno de um Museu de história da cultura ocidental.
De fato, este Livro é um dos elementos mais explorados
do folclore em torno da Bruxa; explorado, inclusive, 
no mercado editorial.

Porém, o texto que tem atravessado séculos e 
que Amadeo Santander reproduz em seu Livro da Bruxa
 (s/data), este texto é uma mutação de autoria desconhecida
o suficiente para ser considerado de domínio público.
Na folha de rosto de uma edição recente Santander e/ou
a editora [seja lá quem for este autor] declara que 
a obra reproduz o único e autêntico manuscrito... [cópia]
 do original extraído dos Flos Sanctorum, datado do tempo 
dos mouros de Évora.

Esta informação é uma encruzilhada na 
pesquisa: ocorre que o Flos Sanctorum [ou Florilégio dos Santos,
Flor dos Santos] a princípio, é Hagiografia: um
livro que reúne biografias de santos [?!]. E a situação
se complica posto que o Flos Sanctorum, segundo 
estudos é, por sua vez, reedição de um livro mais
antigo, A Lenda Áurea ou A Legenda Áurea que
também é, essencialmente, coletânea de vidas de
santos, escrito-compilado por Jacobus de Voragine
[1230-1298, italiano, religioso dominicano, arcebispo 
de Gênova], datado em em torno do ano de 1260.

A questão é: como pode, o Livro da Bruxa apresentado 
por A. Santander ser extrato, derivação de um Flos
Sanctorum de qualquer século? Tudo indica que o 
Livro da Bruxa não é, de modo algum derivado de
manuscritos de uma Bruxa de Évora. O nome da
Bruxa, nesse caso, tal como no caso do penitente 
Bruxo Cipriano é usado como atrativo de mercado.
Caso simples de propaganda enganosa. Em ambos 
os casos, os Livros atribuídos aos lendários autores 
são coletâneas de simpatias e receitas populares, 
tradicionais, resgatadas do acervo da cultura oral, 
misturadas com rezas e saberes práticos destinados 
a solucionar os problemas do corpo e da alma do
Homem medieval.






MAGIA PRÁTICA, MUITO PRÁTICA
comentário ao conteúdo de O Livro da Bruxa de A. Santander

No livro de A. Santander as receitas 
mágicas, feitiços, oráculos, começam no 
CAPÍTULO III com uma técnica muito útil, 
atemporal! que pode funcionar em qualquer 
época, para as mulheres se livrarem dos homens 
quando estiverem aborrecidas de os aturar. A seguir, 
uma receita infalível para as mulheres não terem filhos,
tão útil quanto anterior ou mais, método bastante tradicional, 
utilizando esponjas do mar introduzidas na vagina antes do
coito, truque já usado no Egito Antigo, por exemplo. 
Há magias para sedução, rejeição e fidelidade, para 
prosperar no trabalho honesto ou desonesto. Oferece 
proteção contra inimigos, oráculos para saber do 
presente e do futuro, feitiços e contra-feitiços.

CAPÍTULO IV resgata a figura do mago egípcio Janes
 [que, juntamente com seu parceiro, Jambres], que confrontou 
Moisés e Arão diante do Faraó com uma disputa de
poderes mágicos. Este personagem, o mago egípcio 
Janes, pouco lembrado nos dias correntes, também
é citado nos Livros de são Cipriano, fortalecendo 
as alusões a uma ligação, mestra-discípulo entre o
Santo Bruxo e a Bruxa de Évora. Em uma das versões
da fim da vida da Bruxa, ela é convertida ao cristianismo 
por Cipriano e termina sua vida como devota católica e
 aia [camareira pessoal] de uma aristocrata.

Neste capitulo,continuam sendo listadas magias 
relacionadas com questões mundanas,cotidianas,incluem 
ainda, receitas de beleza: Para conservar a formosura, 
para afinar, limpar e clarear a pele, tingir os cabelos. 
Em uma das formulas o mago Jambres promete: ...
Fazer sumir do corpo e do rosto as verrugas, 
manchas e outras excrescências da pele.

CAPITULO V é dedicado à Pastoromancia,
denominação imprópria, refere-se à chamada, 
por ocultistas como Eliphas Levi [Alphonse Louis 
Constant, 1810-1875] e Papus [Gérard 
Anaclet Vincent Encausse, 1865-1916], magia 
dos campos, da tradição dos pastores da 
Sicilia, Itália. E não são propriamente magias.

São receitas, mais especificamente, 
medicinais, parte do arsenal curativo popular
 dos precários tempos medievais. 
São remédios e rezas para combater, solitária 
[Taenia solium, verme platelminto], hemorróidas,
lesões musculares, surdez, dor de dentes, 
feridas, úlceras, hemorragias, queimaduras, 
picada de insetos e animais peçonhentos e, é claro, 
receita contra calos e verrugas.

O CAPITULO VI promete revelar o segredo alquímico
da arte de fazer ouro. Porém, como sempre acontece
nesse tipo de "literatura" o texto nada fornece de 
aproveitável sobre o tema. Aliás, passa longe de 
qualquer fórmula de produzir ouro.

São mencionadas umas poucas substâncias muito
usadas em outras operações mágicas registradas
em outros manuais do gênero. Tais substancias 
seriam ingredientes-chave da transmutação de 
materiais ordinários no precioso metal. Escreve 
Santander: Não faltam nos livros verídicos [?] 
exemplos que comprovem essa operação. E 
ainda: Esta arte é de grande facilidade [!] mas exposta
a graves perigos porque não se pode 
executar em a cooperação do demônio (SANTANDER, p 59).

É o demônio quem prepara e fornece certos 
pós empregados na transmutação. Dois metais
e uma outra substância são mencionados como
ingredientes essenciais: argenteo vivo[possivelmente 
interpretável como Alumínio (Al) mas muito mais
provável que seja redundância esclarecendo
azougue como sendo e elemento Mercúrio
cujo símbolo é Hg provém da designação latina – 
hydrargyrum que significa prata líquida.

De fato, o Mercúrio assemelha-se a uma
prata buliçosa e vívida [por sua consistência
entre o fluido e o gel]; daí também a denominação
 azougue [para o mercúrio], aludindo a algo
buliçoso, que não para quieto. Finalmente, entre
os ingredientes da transmutação comentada em 
O Livro da Bruxa é mencionado um misterioso pó 
de Resh [Veja box ao lado].




CAPÍTULO VII – TESOUROS DA GALIZA





Galiza ou Galícia é uma comunidade autônoma 
espanhola, fronteira com Portugal, situada a 
noroeste da Península Ibérica. Sua capital é Santiago 
de Compostela, na província da Corunha. As
informações sobre estes tesouros foram 
alegadamente extraídas de um pergaminho que
teria sido encontrado nas ruínas do castelo mourisco 
de Altamira [abaixo] no ano de 1065.



Sobre o paradeiro do pergaminho (no século XX)
diz o autor (Santander) que encontra-se [ou encontrava-se...]
em Barcelos, [cidade portuguesa, norte do país],
na Biblioteca Acadêmica Peninsular Catalã. 

Muito danificado, o pergaminho tem partes carcomidas
e em alguns casos não se entende bem (SANTANDER, p 63]
Na verdade, todo o texto sobre os supostos Tesouros 
da Galiza não se entende nada bem, por exigüidade 
de informações e/ou por arcaísmos nas denominações
topográficas, medidas de distância e valores.

Os termos usados nos textos dos 173 (cento e setenta três)
segredos estão repletos de termos muito antigos. 
Exemplos: Encruzilhada de Lobios, distância de 32 homens... 
depositamos 500 cunhos, na ponte do Poderoso, à
profundeza de dois homens...[na]... residência de frei Tramudo...
um haver de prata em rama... entre dois troncos de pinheiro, etc.


Deste modo, as dezenas de segredos que deveriam
revelar ou fornecer chaves de localização de tesouros,
parecem nada significar; de nada servir aos 
caçadores das arcas e das botijas perdidas.

Todavia, se um crédulo ou teimoso arriscar apostar
em algumas das 173 dicas vai precisar 
estudar exaustivamente para decifrar/traduzir os 
nomes de localidades, que mudaram muitas 
vezes, identificar personagens históricos, descobrir 
e converter para termos atuais valores das distâncias 
e das supostas riquezas.






CAPÍTULO VIII –  ORÁCULO DOS SEGREDOS
REVELADOS  PELA  FEITICEIRA  DE   ÉVORA

São 108 estes segredos que o autor (Santander) 
classifica como maravilhosos. Porém o capítulo, na
realidade apenas reúne mais receitas, cujo teor 
oscila entre a superstição e o curandeirismo mais popular.

Pretender fornece fórmulas para uma miríade de problemas 
da condição humana: desde a prática de proezas sobrenaturais, 
remédios caseiros para questões domésticas mais ou menos 
ordinárias ou, ainda artifícios para alcançar desejos pouco 
louváveis e, certamente, nada cristãos.

Em termos gerais trata da saúde e higiene
básicas, das virtudes de certas substâncias e
de outras coisas, dos truques mágicos para 
obter vantagens, das operações consideradas sobrenaturais, 
como a levitação. São outros exemplos desses segredos
textos que tratam de assuntos como:

Em saúde e higiene – Cura de dores de cabeça,
evitar pulgas, carrapatos, percevejos, piolhos, formigas,
moscas; são remédios par lombrigas, tosse, catarro.
diarréia, desinteira; para evitar a sarna, para conhecer
enfermidades pelo exame da urina, para manter a 
castidade, para cobrir os cabelos brancos. Para manter 
a castidade...

Sobre virtudes de substâncias e de certas coisas –
 Do vinagre, da urina, do ovo, da Genebra, da Artemísia,
do Jacinto, do sono, de peles descartadas na muda das
cobras. Para conhecer as enfermidades pelo exame da 
urina. Sobre as virtudes do sono.

Prodígios – Tirar o sal da água do mar. Separar água e vinho.
Para que um cavalo pareça manco não sendo. Para não sentir
tédio nem cansaço em uma jornada. Para o fogo não
queimar. Descobrir infidelidades. Fabricar uma lâmpada invisível.




CAPÍTULO IX –  FRENOLOGIA, ANTROPOMETRIA & FISIOGNOMIA







Phrenologie, 1894. Friedrich Eduard Bilz (1842-1922)
VEJA AQUI, ampliação de similar, em inglês,
com imagens ao invés de legendas no cérebro.




Trata-se de conhecer os indivíduos pelo estudo ou
 leitura do Crânio [fenologia], das Proporções e
aspectos das partes do Corpo [antropometria] e dos
traços do rosto [fisiognomia]. Capítulo bastante curioso 
que, muito provavelmente, mistura sabedoria popular 
com idéias científicas que tornaram-se populares.

Além disso, esse tipo de  conhecimento é matéria
essencial para qualquer magista e/ou ocultista, uma
tema especial entre todos os tópicos dos estudos 
das Ciências Humanas [no ocultismo].

Embora estas ciências tenham origens muito antigas,
o texto de Santander em O Livro da Bruxa é fundamentado
nos estudos do médico alemão Franz Joseph Gall (1758-1828, 
que mapeou crânio e cérebro segundo suas supostas funções):

Gall, o notável médico e fisionomista... é o autor
deste engenhoso sistema, que ensina a descobrir,
por claríssimo modo, as inclinações, vícios, paixões e 
virtudes de todas as pessoas pelo simples exame e
configuração do crânio. ...Não se pode por em dúvida
a lógica desse sistema. ... Os homens mais notáveis,
tanto por seus talentos como por seus crimes, raras 
vezes apresentam cabeças regulares[SANTANDER].

Santander fornece a lista das faculdades cerebrais,
que são trinta associadas a trinta regiões crânio-cérebro,
mas não apresenta o mapa concebido por F. J. Gall. 
A seguir passa a tratar da fisiognomia, estudo dos
traços e formas do rosto fornecendo algumas 
dicas sobre a leitura dessas características: formato,
tamanho dos olhos, nariz, testa, boca, dentes, queixo, 
orelhas, mãos, pés.

Também fala dos tipos físicos como um todo, 
considerando altura, compleição, postura. Porém, 
o estudo apresentado por Santander muito superficial
se comparado a outros publicados por ocultistas 
mais eruditos, como Papus [Gerard Anaclet Vincent
Encausse, 1865-1916].



CAPÍTULO X –  CARTOMANCIA

Neste penúltimo capítulo, mais uma vez, misterioso
manuscrito revelaria a técnica da suposta Bruxa de 
Évora no ofício oracular de ler o destino das pessoas
nas cartas de um baralho comum. 

Na misérrima choça que abrigava a bruxa, sua última
morada antes da condenação e num falso compartimento
que lhe servia de dormitório, foi achado um manuscrito esta
nova arte de deitar as cartas, a que demos o nome de 
cartomancia cruzada e, ao que parece, [desta técnica] 
feiticeira começou a fazer uso depois de 
ter-se indisposto com Satanás [supostamente, a 
Bruxa  converteu-se ao Cristianismo por influência do também
ex-feiticeiro Cipriano – [p 139].

Observação: Na cartomancia, as cartas podem deitadas 
[tiradas e postas na superfície de um plano] em disposição
linear, uma ao lado da outra, é muito comum. A forma cruzada
dispõe as cartas de modo a formarem a figura de uma cruz,
com uma tiragem de cinco cartas, por exemplo. Isso isentaria 
a prática de tirar a sorte do estigma do pecado que consiste,
justamente, em fazer uso de oráculos. Meditemos...

CAPÍTULO XI –  SOBRE ASSOMBRAÇÕES

Finalizando o Livro, Santander apresenta uma pequena 
coleção de casos de assombrações, sem faltar a célebre
casa assombrada de Atenas e referências a personagens
do folclore histórico, especialmente da península Ibérica, 
como: o Frade da Mão Furada e a Velha nos telhados das
casas. Crenças que chegaram ao Brasil colônia como 
atestam pesquisas de estudiosos do assunto.




LINK RELACIONADO: Cipriano, O Santo Feiticeiro
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Volume Especial I.  Guimarães: 1999. Casa de Sarmento.
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BERNAND, Carmen Muñoz. Enfermedad, Daño e Ideologia: Antropología
médica de los Renascientes de Pindilig. QUITO-Ecuador: Edicones Abya-Yala
, 1999. Google Books.
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FARELLI, Maria Helena. A bruxa de Évora.  2ª Ed. – Rio de Janeiro: Pallas, 2006.
LA HECHICERA DE EVORA O HISTORIA DE LA SIEMPRE NOVIA: Sacada 
de um manuscrito de Amador Patricio, datada em Salvaterra – 23 de Abril de 
1614IN Gran Libro de San Cipriano o los tesoros del hechicero. Ediciones 
AKAL, 1985. Google Books.
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São Paulo: Pensamento, 1993.
MANDELBAUM, Benjamin. A Letra
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MCNALL BURNS, Edward. História da Civilização Ocidental, vol. I. [trad
. Lourival Gomes Machado et. al.]. Porto Alegre: Ed. Globo, 1975.
SANTANDER, Amadeo de. O livro da bruxa ou A feiticeira de Évora. Ed.
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São Cipriano, o Bruxo. Capa de Aço. Coletânea, p 38. IN Google Books.
SARAMAGO, José.  Évora, Património da Humanidade. [http://www.fikeonline
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SINCLAIR, Douglas R. Descendants of Israel and Golda (Goldstein) Men
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SÍMON, Francisco Marco. Religion and Religious Practices of the Ancient 
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University of Zaragoza, 2005. [http://www4.uwm.edu/celtic/ekeltoi/volumes/vo
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SKALINSKY JUNIOR, Oriomar. O caminho dos jesuítas da mística à Educação:
dos Exercícios Espirituais ao Ratio Santorum. Universidade Estadual
de Maringá, 2007. [http://www.ppe.uem.br/dissertacoes/2007%20-%20Oriomar
_Skalinski_Junior.pdf Acessado em 17/09/2010]
[http://www.scribd.com/doc/13621641/En-Torno-Al-Origen-de-La-Mama-Huaca]
[http://www.unioviedo.es/CEHC/pdf/Tesis%20Vanesa/conjuntotesis.pdf]
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